Como religiões de matriz africana são símbolo de resistência e identidade negra no Amapá
Como religiões de matriz africana são símbolo de resistência e identidade negra no Amapá Neste feriado de 20 de novembro, dia da Consciência Negra, o g1 d...
Como religiões de matriz africana são símbolo de resistência e identidade negra no Amapá Neste feriado de 20 de novembro, dia da Consciência Negra, o g1 destaca como as religiões de matriz africana estão ganhando espaço no Amapá e fortalecendo a identidade negra no Estado. O último censo apontou que a Umbanda e o Candomblé passaram de 0,1% da população para 0,5% no Amapá. No Brasil, o número triplicou. No Estado, essas práticas religiosas se conectam a manifestações culturais como o marabaixo e o batuque, também de origem africana. Juntas, elas ajudam a preservar tradições que resistem há séculos contra a invisibilização e o preconceito. Baixe o app do g1 para ver notícias do AP em tempo real e de graça O historiador Bruno Machado explica que as religiões de matriz africana são parte da construção da sociedade brasileira. Para ele, não existe uma única identidade negra, mas várias. Essa pluralidade está ligada às experiências transmitidas de geração em geração, principalmente pela oralidade, que valoriza saberes e costumes. Nos terreiros, o culto a entidades espirituais reforça identidades que ainda sofrem com o racismo e suas violências físicas e simbólicas. “Existem várias identidades negras e elas devem ser preservadas. Quem participa das religiões de matriz africana não necessariamente é negro, mas essas práticas reforçam sentimentos de pertencimento, autoestima e aceitação ao diferente. Ao contrário das religiões salvacionistas, elas têm mais abertura ao acolhimento e à diversidade”, afirma Machado. Entre os desafios para manter viva essa tradição estão o resgate da memória afro-cultural e a valorização dos saberes ancestrais. Segundo o historiador, essas religiões se diferenciam das dominantes porque seus conhecimentos e cosmologias estão diretamente ligados à natureza. “Pensar nisso também ajuda a fortalecer aspectos das identidades negras”, diz. No culto afro, o axé é entendido como energia vital que vem das forças da natureza. Cada elemento carrega uma simbologia própria e representa o poder do sagrado. 🔍Você viu isso? A população quilombola do Amapá é de 12.524 pessoas, segundo o Censo Demográfico 2022. O número representa 1,71% de pessoas residentes no Estado, que é de 733.508 habitantes. LEIA MAIS: Marabaixo é usado para ensinar a história afro-amapaense em escola do interior do Amapá Encontro dos Tambores começa neste sábado (15) em Macapá O axé e o acolhimento As casas de axé são mais do que locais de culto. Elas funcionam como espaços de aprendizado, onde sacerdotes e praticantes, chamados de pais e filhos, caminham juntos em constante evolução. Nesse cenário, pais e mães de santo têm papel fundamental na valorização da cultura afro-amapaense e na formação de uma consciência coletiva sobre a negritude. A liderança do terreiro Xwé Acè Nă Djohun, de tradição Djedje Savalu, no bairro Jardim Felicidade, em Macapá, é da Donέ Danielle Barriga. Iniciada em 2011, Danielle viu de perto o crescimento das religiões de matriz africana no Amapá e as mudanças que ocorreram nos últimos anos. “É através do Candomblé, da Umbanda e de tantas casas de axé que mantemos viva a sabedoria dos povos que vieram antes de nós”, destaca a Donέ. Conhecida como roça do Jardim Felicidade, a casa é mais que um espaço espiritual. Ela funciona como apoio comunitário em uma área periférica da capital. Diversas ações sociais são realizadas no espaço durante o ano. O acolhimento é a essência dessas religiões. Muitos fiéis encontram ali consolo para suas fragilidades. “Quando falamos de Consciência Negra, falamos também dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, que preservam a memória espiritual dos nossos ancestrais e mantêm vivas tradições que resistiram à violência e à perseguição”, explica Danielle. Na religião, o nome de santo de Danielle significa “aquela que nasce dos ventos”, em referência a orixá Oyá. Para ela, esse mesmo vento aponta para o futuro e mantém sua casa firme na tradição Savalu. Donέ Danielle Barriga Divulgação/Xwé Acè Nă Djohun Matriz africana no Amapá No Amapá, três religiões de matriz africana se destacam: Candomblé, Umbanda e Tambor de Mina. Cada uma tem sua própria tradição, que define os ritos e a doutrina de cada terreiro. As diferenças aparecem nos rituais. No Candomblé, os fiéis cultuam os orixás, divindades ligadas aos elementos da natureza. A Umbanda é uma religião afro-brasileira criada oficialmente em 1908. Ela nasceu da união de práticas espirituais mais antigas, mantidas por povos escravizados, indígenas e comunidades marginalizadas, que encontraram na fé uma forma de resistência cultural e sobrevivência. O Tambor de Mina surgiu no Maranhão e também é uma religião afro-brasileira. Seus rituais são marcados pelo culto aos voduns, orixás e encantados. Na foto está a ahama da Xwé Acè Nă Djohun, Gäniyäku Jokolosy, dando a benção aos filhos Divulgação/Xwé Acè Nă Djohun Dia da Consciência Negra O mês de novembro é marcado pelo Mês da Consciência Negra, com destaque para o feriado de 20 de novembro, que homenageia Zumbi dos Palmares, líder quilombola e símbolo da luta contra a escravidão. Desde 2023, o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, é feriado nacional. A mudança foi aprovada pelo Congresso e sancionada em dezembro de 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Festa de Cosme e Damião na Xwé Acè Nă Djohun Divulgação/Xwé Acè Na Djohun Festa de Cosme e Damião na Xwé Acè Nă Djohun Divulgação/Xwé Acè Na Djohun Veja o plantão de últimas notícias do g1 Amapá VÍDEOS com as notícias do Amapá: