Documentário no interior de SP destaca cultura afro-brasileira em meio ao tropeirismo: 'Defesa de um bem histórico'
Documentário no interior de SP destaca cultura afro-brasileira em meio ao tropeirismo Resistência e ancestralidade. É desta forma que Adriano Vaz descreve a ...
Documentário no interior de SP destaca cultura afro-brasileira em meio ao tropeirismo Resistência e ancestralidade. É desta forma que Adriano Vaz descreve a cultura afro-brasileira no documentário "Memórias da Cidade", dirigido e gravado na Fazenda Pilão d'Água, considerada um patrimônio histórico de Itapeva (SP). Para o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), o g1 te convida a voltar no tempo e entender como o local foi extremamente importante para o entrelaçamento de diferentes culturas, como as dos tropeiros, escravizados e quilombolas. Assista acima. 📲 Participe do canal do g1 Itapetininga e Região no WhatsApp O diretor, que também é coautor da novela "O Sétimo Guardião", exibida pela TV Globo em 2019, explica que a fazenda é amplamente reconhecida por historiadores e arqueólogos como um sítio de alto valor histórico e cultural. Essas características, de acordo com ele, foram essenciais quando estava em busca de uma inspiração. "A fazenda era raramente compreendida de forma profunda. Ao conhecer melhor a pesquisa de uma arqueóloga, entendi a dimensão da cultura afro-brasileira naquele território e a importância da fazenda como ponto de invernagem tropeira e espaço de resistência", diz. Fazenda Pilão d'Água, em Itapeva (SP) Divulgação A Fazenda Pilão d'Água, construída no século XVIII, mantém contato direto com o Quilombo do Jaó, também localizado em Itapeva. O local era essencial no circuito econômico que ligava o sul do país à Sorocaba (SP), por onde circulavam ouro, açúcar e café. No entanto, com o passar do tempo, o local se tornou apenas ruínas. "O fato de a fazenda estar abandonada me atravessou de forma profunda. O documentário nasceu dessa urgência de reconhecer as vidas que moldaram aquela região, e o formato foi escolhido justamente por conta disso, de deixar que a própria comunidade falasse. Eu queria abrir espaço para quilombolas, historiadores e moradores", destaca. "A Pilão d'Água é feita de ruínas e elas pedem contemplação. O documentário nos permite trabalhar com tempo, textura, com o que ainda pulsa no que sobrou. É um formato que respeita o território e a força simbólica da paisagem. É a defesa de um bem histórico", completa. Gravação foi feita na fazenda e celebra a cultura afro-brasileira Divulgação Ao g1, Adriano pontua que o documentário vai além. O projeto teve um período de levantamento de imagens impactantes e fontes históricas que pudessem contribuir com a luta pela preservação do espaço. Para ele, Itapeva é o início de tudo. "Acompanho a cidade de perto há três décadas e, apesar de a região ter diversas riquezas históricas, ela convive com apagamentos. A fazenda é interessante por ser, simultaneamente, um ponto estratégico do tropeirismo e palco de intensa atividade do trabalho escravizado. A Pilão é sintetizar contradições e, também, a nossa força", conta. O diretor revela que, durante o processo de produção do filme, houve períodos difíceis, fossem eles práticos ou emocionais. Ele conta que o trabalho precisou ser interrompido por dias devido à carga emocional pesada em toda a equipe. "Foi um processo marcado por desafios práticos e emocionais. A fazenda tem acesso difícil, estruturas frágeis e nenhuma infraestrutura elétrica. Mas o maior desafio foi emocional. Filmar na antiga senzala é sentir a história no corpo. Depois dessa gravação, precisei interromper o trabalho por dias, porque a carga emocional atingiu toda a equipe", destaca. Equipe de gravação do documentário Divulgação Mesmo satisfeito com o trabalho, Adriano acredita que poderia ter melhorado em alguns aspectos. Entre eles, está a oportunidade de ter registrado falas de pessoas que moram na cidade há mais tempo. "A memória oral traz informações que não estão em documentos, e isso é ouro para quem trabalha com produção criativa, para quem conta histórias. Do lado técnico, uma terceira câmera permitiria capturar reações espontâneas, nuances do território e pequenos gestos dos entrevistados, enriquecendo o ritmo da montagem. A Fazenda Pilão d'Água possui inúmeras camadas, é impossível esgotar tudo em um filme", pontua. Outro tópico de destaque é a pesquisa arqueológica feita anteriormente, que, segundo Adriano, ajudou a reconstruir camadas invisíveis do local. "A presença da jornalista Eliana Alves Cruz foi essencial durante o processo. Ela amplia o alcance da narrativa ao relacionar a trajetória de Itapeva com a formação histórica do país, trazendo reflexões profundas sobre ancestralidade, apagamentos e resistência. Eliana engrandece o filme e costura a história sem perder o vínculo com o território local", reforça. "Outro destaque é a base científica: o documentário nasce de pesquisa arqueológica e histórica rigorosa. O trabalho de Sílvia Corrêa Marques revelou vestígios materiais e simbólicos deixados pelos trabalhadores escravizados. Essa união da ciência, memória oral, participação comunitária e sensibilidade artística é o que faz o filme respirar e devolver voz a um passado silenciado", finaliza. Veja mais notícias no g1 Itapetininga e Região