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Apenas 15% das cidades brasileiras têm um plano municipal de adaptação às mudanças climáticas, diz levantamento

Apenas 15% das cidades brasileiras têm plano municipal de adaptação às mudanças climáticas Desastres naturais deixaram evidente, mais uma vez, que é nece...

Apenas 15% das cidades brasileiras têm um plano municipal de adaptação às mudanças climáticas, diz levantamento
Apenas 15% das cidades brasileiras têm um plano municipal de adaptação às mudanças climáticas, diz levantamento (Foto: Reprodução)

Apenas 15% das cidades brasileiras têm plano municipal de adaptação às mudanças climáticas Desastres naturais deixaram evidente, mais uma vez, que é necessário preparar cidades brasileiras contra eventos extremos. Os tornados que atingiram o Paraná na sexta-feira (7) se somam a outras datas trágicas no calendário das mudanças climáticas. 2024 foi o ano das enchentes no Rio Grande do Sul. Em 2023, temporais devastaram o litoral norte de São Paulo. “Os desastres e as catástrofes estão sucedendo, e nós não estamos, no Brasil, nos preparando a tempo e o quanto nós deveríamos”, afirma Victor Marchezini, pesquisador do Cemaden. Victor Marchezini é pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, o Cemaden. Um levantamento do Cemaden no primeiro semestre de 2025 mostrou que apenas 15% das cidades brasileiras têm um plano municipal de adaptação às mudanças climáticas. Mais de dois terços delas estão nas regiões Sudeste e Sul. O Nordeste vem em seguida. As regiões Centro-Oeste e Norte são as que têm os menores índices de municípios com planos para enfrentar as mudanças ambientais. Em 2009, o Brasil anunciou a Política Nacional sobre Mudança do Clima. São basicamente dois caminhos: planos de mitigação e de adaptação. Os planos de mitigação indicam formas de reduzir as emissões que causam mudanças climáticas, e as estratégias de adaptação buscam reduzir os impactos dos eventos extremos, que já são frequentes. Ou seja, mitigação são as táticas usadas para evitar o aquecimento do planeta. Por exemplo: a substituição dos combustíveis fósseis, incentivo ao uso de bicicletas e carros elétricos, e o reflorestamento de áreas degradadas. Já o plano de adaptação é uma estratégia para lidar com os problemas que já existem, tais como: criar infraestruturas mais resistentes, barreiras contra enchentes e planos de alerta em áreas vulneráveis. Mas foi só em 2024, depois da inundação no Sul do país, que o Brasil estabeleceu as diretrizes para os planos de adaptação. Mas elas não são obrigatórias. O professor da Unesp, Pedro Henrique Torres, diz que a preocupação com o clima está de fora até mesmo dos planos diretores, que tratam do desenvolvimento das cidades. Ele diz que é preciso ter planos de fuga e criar áreas seguras, especialmente nas regiões mais pobres das cidades, que geralmente são as que mais sofrem. “Os planos diretores, infelizmente, não contemplam a dimensão climática como deveriam. E aí tem -principalmente nas cidades urbanas de grande porte, mas também nas médias e nas pequenas - uma relação que deve ser vista cada vez mais estreita entre adaptação, entre o desenvolvimento e crescimento das cidades e o tema do clima. Ou seja: para onde vão as pessoas quando tem um déficit habitacional na cidade”, afirma Pedro Henrique Torres, professor do Instituto de Biociência do Campus Litoral da Unesp. Apenas 15% das cidades brasileiras têm um plano municipal de adaptação às mudanças climáticas, diz levantamento Jornal Nacional/ Reprodução E foi depois da forte ressaca forte em 2016 que Santos, no litoral de São Paulo, criou uma Comissão Municipal de Adaptação à Mudança do Clima. Santos começou mapeando as áreas mais vulneráveis do território. E a orla é uma delas. Os moradores contam que, 20 anos atrás, tinha uma faixa de areia na ponta da praia. Hoje, o mar quebra praticamente no muro do calçadão. Ou seja: a praia - que era uma barreira de proteção natural contra a força das ondas - desapareceu. E foi preciso agir. A cidade fez uma parceria com a Unicamp e colocou sacos enormes de areia na ponta da praia, bem perto do canal do porto, que é um dos principais da América Latina. “Eles têm uma função de quebrar a energia das ondas e também reter sedimento. Esse foi um projeto pioneiro, piloto. Em 2018, ele foi inaugurado. De lá para cá, não tivemos mais estragos nas estruturas urbanas. E já temos um projeto tanto de reforma como também prolongá-lo em direção ao canal quatro. Com isso, ampliando a área protegida com os chamados ecobags aqui em Santos", conta Glaucus Farinello, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Santos. Outra ação foi em uma área de encosta. Os moradores que viviam em uma ocupação de risco foram removidos e a própria população ajudou a replantar espécies nativas da Mata Atlântica. “Envolver a população é fundamental. Ela é a peça fundamental, porque se a gente consegue envolver a população, a gente vai conseguir que a população também empurre o tomador de decisão a considerar essa agenda importante na política pública”, diz Pedro Henrique Torres. Mas, para colocar todos os planos necessários em prática, é preciso dinheiro. Ou seja, financiamento. “Existem muitas atribuições colocadas para os municípios. Mas faltam os meios de implementação para ajudar os municípios a colocar a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e adaptação às mudanças climáticas também em prática”, afirma Victor Marchezini, pesquisador do Cemaden. O Ministério do Meio Ambiente reconhece a urgência de ações para adaptar os municípios. “A gente tem feito um trabalho no âmbito do programa Cidade Verde Resilientes para reunir tanto os gestores do Ministério das Cidades, Ministério do Meio Ambiente, também Ministério da Ciência e Tecnologia em particular, mas outros ministérios também estão envolvidos. Além do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, em todos os recursos que estão disponíveis para que a gente permita, possibilite aos gestores essa facilitação”, diz Inamara Mélo, diretora de Políticas Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente.